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as coisas que não couberam

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ninguém vê o que a gente esconde pra caber. o que a gente engole, dobra, silencia. tem partes nossas que foram ficando pelo caminho, porque não encaixavam, porque incomodavam, porque eram demais pra alguém. e, aos poucos, a gente vai se apertando em versões menores de si mesmo, tentando fazer parecer que tá tudo certo.

mas não tá. porque tem um custo. e o preço de não caber inteiro é alto. são pedaços que doem por dentro, sentimentos que a gente trancou, palavras que ficaram entaladas. são vontades abortadas antes de nascer, sonhos empurrados pra depois, e um depois que nunca chega.

as coisas que não couberam foram ficando em gavetas internas, que vez ou outra se abrem sozinhas. e aí transbordam em forma de angústia, ansiedade, crises sem nome. é o corpo avisando que tem partes dele que você abandonou. e que agora, doem.

ninguém devia precisar diminuir o próprio brilho pra não ofuscar alguém. ninguém devia se calar pra manter a paz. ninguém devia ter que se apagar pra ser amado. mas a gente faz. por medo de rejeição, por carência, por amor mal compreendido. até perceber que, no fim, o que não coube em alguém pode ser exatamente o que te faz ser quem é.

as coisas que não couberam merecem espaço. merecem luz. merecem perdão. não da parte do outro — mas da nossa. perdão por ter escondido tanto, por ter fingido tanto, por ter se esquecido de si. ainda dá tempo de recolher cada parte deixada pra trás e dizer: agora você pode ficar. agora você cabe.

@enricopierroofc

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